quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Meu clichê da velha

Gente da cidade grande é um bicho muito besta. Ou eu sou um bicho muito besta, desses que espera algo daquilo que não conhece e, se esse algo não se concretiza, supõe o exato oposto.

É que, pelo que eu tinha ouvido pelos cantos, pensava La Plata como uma pequena Buenos Aires. E mesmo que fosse, não seria, porque a umidade e o plano e o gosto por padarias e bancas de frutas te tornam diferente. Mas pensava assim e vi num dia nublado uma cidade quieta e fria e feita quase só de casas. Fui tão besta esse dia que parei uma mulher na rua para perguntar com algum assombro - e um pouco mais de esperança de que ali se praticasse a ciesta - por que diabos todos os comércios estavam fechados. Ao que ela me respondeu também com sua parte de assombro que não eram todos, que se eu caminhasse mais para o centro encontraria muitas coisas abertas, mas por ali as pessoas ainda estavam de férias. Meia cidade de férias! Que idéia mais linda essa de que as pessoas descansam de seus trabalhos periodicamente! Todas elas, tirando aquelas cujos patrões querem ser Buenos Aires.

Mas bastou voltar à dita cidadezinha - como me disseram uma vez, um quadrado quadriculado com duas linhas oblíquas formando um X, algo perfeitamente atravessável à pé - para vê-la viva, ensolarada, fria ainda, e absolutamente caótica. Não toda. Acho que há ali linhas imaginárias que separam o centro e as compras e o barulho e os carros das áreas onde é possível viver. É que perdida como estava eu só as encontrei por acaso.

Não é preciso um mapa para circular por La Plata. As ruas numeradas tornam possível que alguém se encontre por elas sabendo apenas para onde se cresce e se descresce. Mas para lembrar-se em La Plata, é preciso conhecer as linhas imaginárias.